sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Escudeiro

 Você costumava elogiar meu escudo, dizia que ninguém o sabia portá-lo como eu, e também como o projetava em sua proteção, ele era dourado e cintilante, e com adornos que embora eu julgá-se desnecessário você os admirava. Infelizmente meus mestres não me informaram o quão era de mal gosto as piadas do acaso, é certo o escudeiro ser tão objeto quanto o escudo? É tão trágico quanto cômico os cavaleiros adotarem suas princesas, como se pudessem inventá-las, tolos, esquecem que as princesas nascem, e não transformadas. E antes que isso caia no esquecimento, um castelo é uma obra muito cara, trabalhosa, e desgastante. E é um grande absurdo se ver alguém se recusando a habitá-lo, mas os contos, ah, eles não tem nexo as pessoas saem em busca de aventura, elas acham que as florestas estarão com trilhas prontas, e que encontrarão lindos elfos e gnomos com seus potes de ouro, ao invés de ogros. O que nós podemos fazer, que argumentos usar contra os donos da verdade? Terei eu que ir na floresta e buscá-los, e se meu escudo não me proteger dos ogros? As princesas irão me proteger? Creio que não, então que vão, sofrerei? Sim. Mas há batalhas que não são minhas e mesmo assim poderei cair em desonra por negá-las. E antes vós me acuse de abandono, lembre-se, eu tentei e não foi uma vez só!

Becos

 Sim, eu estou aqui, por mais que não parece mas estou, não se espante com meu simbólico distanciamento, afinal, não posso ir mais longe do que já estou. E não tente me procurar, certamente desistirá disto quando você ver a complexidade dos meus caminhos, se ainda sim insistir se perderá assim como foi comigo. Então deixe que eu me acho, ou pelo menos tentar, foi eu quem escolheu explorar as ruelas e os becos tão inutilizados pelos demais, e também foi quem se decepcionou quando se deparou com aqueles que não tinham saída. Será tão absurdo buscar terceiras opções? Já que os caminhos tradicionais não me levaram a lugar algum. Será que eu sou o absurdo? Sei lá!! Enquanto eu não descubro deixe-me quietinho aqui inventando meu mundo, inventando meus caminhos e meus becos. Quem sabe assim de tanto inventá-los eu acabe também inventando os meus destinos. Bem, de certa forma eles vão existir, e serão reais.